quinta-feira, 4 de março de 2010

Descobrindo o Bambu


O Brasil desconhece o potencial social e econômico dessa gigantesca gramínea denominada bambu. “Nós podemos viver sem carne; nós não vivemos sem bambu.” A frase atribuída ao pensador chinês Confúcio revela a importância da espécie vegetal para o continente asiático. Lá no outro lado do mundo, o bambu é considerado uma dádiva dos deuses e ouro verde da floresta. Uma série de fatores fazem do bambu uma planta especialmente diferenciada. Um dos destaques é o seu potencial de crescimento: cresce mais rápido do que qualquer outra planta do planeta e pode atingir até 30 metros. Além disso, o bambu é tolerante a solos com baixa fertilidade e, dependendo da espécie, os colmos podem ser cortados após dois a quatro anos. Como a espécie vegetal cresce de forma rápida, ele tem alto poder de seqüestro de carbono (CO2) e de reflorestamento de áreas devastadas. É ainda conhecido por suas propriedades de conservação do solo. Isso porque os bambus "costuram" os solos, tornando-os compactos e coesos. O bambu também é utilizado para a geração de energia (há estudos de que o álcool etanol pode ser retirado do bambu) e o carvão desta planta é considerado excelente. O bambu apresenta cerca de 55% de celulose. O papel de bambu tem a mesma qualidade que o papel de madeira. Os especialistas também argumentam que o bambu oferece seis vezes mais celulose que o pinheiro e suas fibras são muito resistentes e de qualidade superior à fibra de madeira. Na Índia, cerca de 70% do papel é feito à base de bambu. Na culinária, o broto comestível é capaz de fornecer proteína, fibras e elementos anti-oxidantes e é muito apreciado pelos asiáticos. Já há utilização do bambu em cosméticos, malhas e até em toalhas de banho. Os bambus também têm aplicação medicinal. “A tradição de uso do bambu no oriente nos diz que do colmo e das folhas da planta são extraídas bebidas antitérmicas, um extrato de sílica chamado tabashir empregado contra asma, loção para os olhos e ainda produtos como enzimas, hormônios, substâncias para cosméticos, xampus, etc. No Equador, na Colômbia e na Costa Rica, por exemplo, os bambus servem como matéria-prima para a construção de casas para populações carentes. Na Tanzânia existem 700 km de tubulações de bambu para irrigação A resistência à compressão de uma peça curta de bambu pode ser seis vezes superior ao concreto e o bambu picado pode substituir a areia/brita na confecção de concreto leve As espécies mais utilizadas e encontradas são: Bambusa vulgaris (papel e celulose), Plyllostachis aurea (vara de pescar ou cana da índia), Plyllostachis edulis (bambu moso ou bambu chinês), Dendrocalamus giganteus (bambu gigante), Bambusa tuldoides (balaios, artesanato, etc.). O bambu pode ser utilizado em esgotos domésticos Com base em dados do IBGE, 58% da população brasileira não tem acesso à rede coletora de esgoto. E mais: 84% dos municípios do país não possuem nenhum tipo de tratamento para o esgoto que é coletado. A quase totalidade desses resíduos é despejada in natura nos cursos hídricos, aumentando a insalubridade e mortalidade que afetam a população brasileira. O sistema proposto pelos pesquisadores da Unicamp possui baixa utilização de equipamentos mecanizados, uma vez que emprega materiais baratos e facilmente encontrados em diversas localidades, propiciando considerável vantagem de um tratamento simples e visivelmente econômico. É um método eficiente e adequado às condições econômicas brasileiras, de modo que pode ser aplicado em cidades de pequeno porte populacional, localidades isoladas, pequenas propriedades (sítios, chácaras), condomínios fechados, postos de gasolina e restaurantes de beira de estrada e hotéis de campo, por exemplo. Esse sistema alternativo aos tradicionalmente empregados, denominado de reator anaeróbio com recheio de bambu, pode ser utilizado no tratamento de esgoto de pequenos e médios municípios brasileiros. É composto por um cilindro de aproximadamente um metro e meio de altura por 0,76 m de diâmetro, com fundo de forma cônica. Dentro, 70 quilos de caule de bambu cortados em pedaços de 6 cm de comprimento. De acordo com o Professor Adriano Luiz Tonetti, esse método, combinado com outros sistemas complementares de tratamento filtros de areia, valas de filtração, escoamento superficial e irrigação de cultura agrícola possui a capacidade de produzir um efluente que possa ser reutilizado ou que, no caso de ser lançado em um corpo hídrico, não cause danos ao ambiente. No caso estudado, entravam no reator 10 litros de esgoto por minuto e o tratamento efetuado apresentou uma eficiência de aproximadamente 70% quanto à remoção de matéria orgânica que, se lançada num manancial (ou qualquer outro curso d'agua), afetaria consideravelmente a vida aquática do rio. Depois de passar pelo reator de bambu o esgoto, parcialmente tratado, evidentemente mais limpo, vai para um tratamento complementar, onde o líquido é aplicado sobre um filtro de areia. Segundo o Prof. Tonetti, "O efluente que sai desse segundo reator pode ser reutilizado para uma série de outras finalidades, como por exemplo para descarga sanitária, lavagem de calçadas, jardinagem ou qualquer outra atividade doméstica. Não serve, é evidente, como água potável ou para ser utilizada na cozinha, para o preparo de alimentos". Uma outra alternativa para a complementação do tratamento do esgoto liberado pelos reatores de bambu seria a sua aplicação em pequenas valas de filtração. "O que isso quer dizer é que, nesse caso, a camada de areia foi enterrada e recoberta pelo solo encontrado na própria região da execução do projeto. Além desse sistema ter apresentado uma grande eficiência, traz ainda como diferencial a vantagem de poder ser instalado no fundo de um quintal ou em uma pequena chácara ou sítio, não prejudicando a circulação de moradores", conclui o pesquisador. A espécie que a literatura julga mais adequada para utilização na construção civil é Guadua angustifolia, nativa da Amazônia, que foi escolhida pelo projeto para disseminação na região, visando a sustentabilidade da obra. Este tipo de bambu ocorre em vastas florestas naturais na Amazônia, especialmente na Colômbia e no Equador. Sem dúvida, o bambu é uma opção ecológica, prática e de baixo custo.

fonte :
jbarrosofilho

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