terça-feira, 31 de março de 2009

Crise e exemplos seminais

Leonardo Boff *

Alguém que está comprometido com o pensamento originário e que se preocupa com o destino da humanidade e de nossa Casa Comum, deve ter a coragem de dizer: não adiantam apenas controles e regulações dos capitais financeiros e dos mercados para sairmos da crise como quer a tendência dominante. São panacéias que não afetam a raiz do caos atual. Querem fazer economia de mudanças radicais. Feitas elas nos livrariam de uma tragédia global. Preferem alimentar e vender ilusões de que, dentro de pouco tempo, tudo vai voltar ao normal. Mas como querem, não vai.

O fato é que o sistema e a cultura do capital não dão mais conta da condução da vida social da humanidade. As muitas crises são expressões de uma única crise: a crise espiritual. Não se há de identificar o espiritual com as religiões e as Igrejas. Ao contrario, a partir do espiritual devemos criticá-las, especialmente, a Igreja Católica, que sob o atual Papa, vive aterradora crise espiritual. Basta considerar a falta de compaixão que o Papa demonstrou na sua recente viagem à África, a propósito da AIDS que em alguns países é uma verdadeira devastação.

Quando falo de espiritualidade penso num novo sentido de ser, num novo sonho coletivo, urdido de valores infinitos como a cooperação, a solidariedade, o respeito a cada ser, o cuidado para com toda a vida, a harmonia com natureza, o amor à Mãe Terra e pluralidade das expressões do Sagrado.
Uma sociedade e uma economia só serão sustentáveis quando seus lideres e seus cidadãos são movidos por valores e princípios que respondem aos desafios da crise, pouco importando as dificuldades exigidas. São assumidos com coragem porque é uma exigência deste momento histórico e não por interesses daqueles filisteus de Wall Street que nos induziram ao erro. Estes toleram, com resistências, controles desde que não prejudiquem a dinâmica do mercado livre e a lógica da acumulação. Querem o mesmo apenas mais seguro.

Valores novos e exemplos seminais são os que verdadeiramente convencem. Refiro o exemplo de um empresário japonês, Yazaki, contado pela física quântica Danah Zohar, num precioso livro que aconselharia aos empresários a lê-lo "A Inteligência Espiritual" (Record 2002).

Yazaki herdou uma pequena empresa de mala direta. Expandiu-se pelo mundo inteiro. Conseguiu tudo o que queria: sucesso, riqueza, respeito da comunidade e uma família integrada. Mas sentia que algo lhe faltava. Corroia-o grande vazio interior. Sugeriam-lhe que frequentasse um mosteiro zen. Passou lá uma semana em meditação com um mestre respeitado. Encontrou-se com seu eu profundo e a conexão que ele mantém com o todo. Deu-se conta de que os bens materiais se mostravam ilusórios porque não o preenchiam, apenas lhe davam satisfação material.

Saiu do mosteiro com um outro olhar. Começou a perceber a beleza de uma cerejeira em flor e a singeleza de um caqui maduro. Em sua autobiografia escreveu:"Os seres humanos separaram o eu do mundo, a natureza da humanidade e o eu pessoal dos outros eus. Por isso caíram na armadilha das ilusões no esforço de preencher o eu vazio. E se fizeram vítimas fatais de um aterrador cenário de autoengano, de hipocrisia e de farisaísmo".

A experiência espiritual não o levou a abandonar o negócio. Deu-lhe um outro sentido. Trocou o nome da empresa, chamando-a de "Felicíssimo", combinação de "feliz" das línguas latinas. A acumulação devia destinar-se a aumentar a felicidade humana, dele e a dos outros. Esteve na Rio-92 para inteirar-se dos problemas ambientais. Destinou grande parte de sua fortuna a fundações que cuidam da educação e do ambiente. Termina seu livro dizendo: "servir nesse nível é servir a Deus". Com ele, a crise foi superada e a humanidade deu um pequeno salto na direção daquilo que deve ser.

[Autor do livro "Responder florindo: da crise de civilização a uma revolução realmente humana", Garamond, Rio].

* Teólogo, filósofo e escritor

sexta-feira, 27 de março de 2009

Base de Kassab aprova constitucionalidade da revisão do Plano Diretor

O vereador Gilberto Natalini (PSDB) leu seu relatório a favor da legalidade do projeto de Kassab sob vaias, protestos e até ameaças de sapatadas dos manifestantes presentes

Vereadores da base governista de Gilberto Kassab (DEM) conseguiram aprovar, na Comissão de Constituição, Justiça e Legislação Participativa, por sete votos a dois, a constitucionalidade do projeto de lei que revisa o Plano Diretor Estratégico (PDE) da cidade, de 2002. O projeto foi enviado por Kassab ao Legislativo.

Dois relatórios sobre a legalidade do projeto foram colocados em pauta. Um deles foi o do vereador João Antônio (PT), cujo parecer indicou a ilegalidade do projeto. Outro, substitutivo ao do petista, foi apresentado por Gilberto Natalini (PSDB), que defendeu a legalidade. Natalini, visivelmente irritado, leu seu relatório sob vaias, protestos e até ameaças de sapatadas dos manifestantes presentes que gritavam 'não, não, não, não à revisão'.

O clima ficou ainda mais tenso quando o vereador Celso Jatene (PTB) fez a afirmação de que os manifestantes, que lotaram o Salão Nobre da Câmara de Vereadores, não passavam da 'claque' de vereadores da oposição. Os presentes se revoltaram. Do plenário ouvia-se: 'Aqui não tem pau mandado de ninguém'. A reunião precisou ser interrompida por alguns minutos pelo presidente da Comissão, Ítalo Cardoso.

O que Jatene ignorava, e depois foi avisado, é que os manifestantes formam a Frente de Defesa do Plano Diretor Estratégico. A representatividade da Frente não é pouca. São 141 entidades que lutam pelo Direito à Cidade e pela implementação do plano.

A revisão do PDE deve ser feita e está prevista por lei, reconhece a Frente. A indignação manifestada pelas entidades está na forma como o Executivo conduziu este processo e em relação às mudanças propostas por ele.

Kassab não se deteve a uma revisão do plano. Ele extrapolou os limites legais e propôs um novo projeto, denunciam as entidades. O próprio PDE vigente 'estabelece os limites legais de sua revisão, restrita apenas à adequação das ações estratégicas do Plano', afirmam as entidades em carta aberta. De acordo com o vereador João Antonio, o prefeito não possui autorização para refazer o projeto.

Uma das supressões mais graves apontadas pelas entidades diz respeito às Políticas Públicas. Ou seja, Kassab, em seu projeto, retirou políticas de Turismo, Desenvolvimento Humano e Qualidade de Vida, Trabalho, Emprego e Renda, Educação, Saúde, Assistência Social, Cultura, Esportes, Lazer e Recreação, Segurança Urbana, Abastecimento e Agricultura Urbana. Essa mudança 'tira do Plano Diretor seu caráter social e estratégico, eliminando diretrizes e ações que articulam os diversos setores no planejamento do desenvolvimento econômico e social da cidade', afirmam as entidades.

Outra crítica à proposta de revisão ataca o fato de que não houve qualquer discussão pública consistente. A Frente não reconhece como legítimas as audiências públicas e o processo de consulta pública que a Prefeitura afirma ter realizado. 'A forma e linguagem herméticas e excessivamente técnicas de apresentação do projeto impossibilitaram à maioria das pessoas uma compreensão clara das propostas e de seus efeitos e conseqüências, tanto na cidade como na vida da população', argumenta a carta das entidades.

A revisão do plano sujeita ainda praticamente todo o território urbano à venda de áreas construídas superiores as hoje permitidas, liberando sem controle a verticalização e adensamento ao sabor do interesse imobiliário. 'A cidade precisa de normas rigorosas para impedir que o mercado imobiliário continue ditando as regras do crescimento urbano de São Paulo', disse João Antonio.

Para o urbanista Kasuo Nakano, do Instituto Polis, o que está em disputa são duas visões opostas de cidade. Uma é a cidade concebida como negócio, em que o espaço público é mercantilizado. A outra é a cidade dos Direitos. 'A sociedade está clamando por uma cidade de direitos e isso é efetivado quando temos o direito de participar dos rumos da cidade', afirmou o urbanista em audiência pública realizada na Câmara em meados de março.

Diante da derrota do relatório pela ilegalidade da revisão, João Antonio disse que daqui para frente a luta se dará para modificar o conteúdo do projeto. 'Esta será a essência da nossa oposição', afirmou.

O projeto segue para a Comissão de Política Urbana para depois ser votado em plenário.


Retirada do projeto

As entidades pedem que o prefeito retire da Câmara Municipal o projeto. Para que a revisão seja legítima, as entidades demandam, primeiro, que as mudanças sejam feitas com base em processos participativos democráticos, amplos e legítimos, e, segundo, que incorporem critérios de sustentabilidade social, econômica e ambiental, enfrentando os problemas das desigualdades sociais e territoriais existentes na cidade.

Para o vereador Jatene, a revisão do plano já foi adiada por muito tempo e não deve retornar ao Executivo. 'A Câmara Municipal não pode neste momento fugir a esta responsabilidade', defende. Ele garantiu ainda que serão realizadas todas as audiências públicas necessárias.

Pontos críticos da proposta de Kassab

- a retirada ou modificação de artigos que tratam de controle e participação popular nas decisões sobre o futuro da cidade, em evidente retrocesso da democracia participativa.

- a ampliação de áreas onde mais prédios poderão ser construídos, inclusive em áreas de várzeas.

- a retirada de Zonas Especiais de Interesse Social (Zeis) em áreas vazias e subutilizadas em bairros centrais, a diminuição do percentual mínimo de moradia social nas Zeis.

- a retirada da base territorial (macro áreas) que define onde devem ser aplicados os instrumentos de cumprimento da função social da propriedade, para evitar a permanência de áreas vazias e subutilizadas em boas localizações.

- a retirada dos prazos para apresentação de um plano de circulação e transportes e um plano de habitação, mais que nunca necessários e urgentes em nossa cidade.

- a supressão das Políticas Públicas Setoriais: Turismo; Desenvolvimento Humano e Qualidade de Vida; Trabalho, Emprego e Renda; Educação; Saúde; Assistência Social; Cultura; Esportes, Lazer e Recreação; Segurança Urbana; Abastecimento e Agricultura Urbana. Esta supressão tira do Plano Diretor seu caráter social e estratégico, eliminando diretrizes e ações que articulam os diversos setores no planejamento do desenvolvimento econômico e social da cidade.
Fonte: Carta aberta da Frente


Voto

Saiba quais os vereadores da Comissão de Constituição, Justiça e Legislação Participativa votaram a favor do projeto de revisão do Plano Diretor enviado pelo Kassab à Câmara:

Natalini (PSDB)
Agnaldo Timóteo (PR)
Celso Jatene (PTB)
Gabriel Chalita (PSDB)
José Olímpio (PP)
Ushitaro Kamia (DEM)
Abou Amadeu (PTB)

Votos contrários ao projeto do Kassab:

João Antonio (PT)
Ítalo Cardoso (PT)

O que é o Plano Diretor?

É o instrumento básico da política de desenvolvimento e da expansão urbana de um município. Nele devem estar garantidas regras e diretrizes não apenas para o espaço físico, mas também para os aspectos social, econômico e administrativo da cidade. Tudo deve ser construído com a participação da população. A Constituição Federal obrigada todos os municípios com mais de 20 mil habitantes a elaborarem seus planos.

Em São Paulo, desde 2002 está em vigor um Plano Diretor elaborado com significativa participação da sociedade. Mas até agora, quase nada foi colocado em prática. A prefeitura não implementou, por exemplo, toda a rede de corredores de ônibus e a rede de ciclovias e parques lineares previstas no Plano; a prefeitura não aprovou o Plano de Habitação e o Plano de Circulação Viária e Transportes. O atual PDE só pode ser revogado ou refeito em 2012.

Projeto de Vila Ecológica na Amazônia usando Bambu

"O uso de painéis modulados pré-montados com bambu é uma das inovações que o projeto procura viabilizar"

Grupo multidisciplinar trabalha na melhoria da construção para a região da Amazônia

Viabilizar uma habitação mais sustentável para a Amazônia, trabalhando desde o plantio do bambu até a execução de uma vila protótipo. Um grupo multidisciplinar de profissionais assumiu esse desafio e está construindo uma vila ecológica na sede da Reserva Florestal Adolpho Ducke, em Manaus. O projeto conta com apoio financeiro do Programa de Tecnologia de Habitação (Habitare), da Finep, e tem como instituição executora o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA).

O conjunto de oito pequenas casas geminadas está permitindo a aplicação de pesquisas voltadas à busca de uma construção de qualidade e menos agressiva ao ambiente da região. “A proposta de moradia ecológica e sustentável busca economia de energia, priorizando ventilação e iluminação natural, a utilização de materiais locais e redução no uso de materiais que utilizam tecnologias poluentes em sua fabricação”, explicou o engenheiro Ruy A. Sá Ribeiro, em um dos seminários de avaliação do Programa Habitare.

Segundo ele, a vila experimenta uma alternativa de construção mista, voltada para habitações multifamiliares. Cada uma das unidades tem área de 42,92 m2, construídos com materiais convencionais como cimento, areia, barro, madeira e telhas cerâmicas. O bambu é usado como estrutura de painéis modulados pré-montados, concebidos a partir de estudos de engenharia dos materiais - uma espécie de taipa de bambu, revestida com cimento.

Conceitos de gerenciamento ambiental (reprodução do bambu e plantação de mudas), tratamento do bambu a partir de substâncias que não são agressivas ao ambiente, tratamento de esgoto no local e adoção de sistema para coleta e aproveitamento da água da chuva são outros princípios adotados. A estimativa do grupo é de que cada uma das moradias possa ser construída com recursos entre R$10 mil e R$12 mil.

Com a participação de profissionais de áreas como arquitetura, engenharia, solos e microbiologia, química, hidroquímica e hidrologia florestal, ciência e tecnologia da madeira, o projeto tem a coordenação da arquiteta Marilene G. Sá Ribeiro. Além disso, conta com a parceria da empresa J.V. Pires de Almeida, já que os projetos que têm recursos do Fundo Verde e Amarelo*, como é o caso do Programa Habitare, priorizam a parceria entre instituições de pesquisa e o setor produtivo.

(* O Programa de Estímulo à Interação Universidade - Empresa para Apoio à Inovação, mais conhecido pelo nome de Fundo Verde-Amarelo - FVA, foi criado por meio da Lei 10.168 de 29/12/2000 e tem como principal objetivo estimular o desenvolvimento tecnológico brasileiro, mediante programas de pesquisa científica e tecnológica que intensifiquem a cooperação de Instituições de Ensino e Pesquisa - IES e centros de pesquisa com o setor produtivo, contribuindo assim para acelerar o processo de inovação tecnológica no País.)

O Projeto Casa Ecológica (CasaEco)

O projeto Casa Ecológica utiliza na construção do protótipo de vila o bambu da espécie Bambusa vulgaris vittata, vulgarmente conhecido como bambu comum, ou bambu imperial. Esta espécie, que é exótica, foi escolhida por ser a mais abundante na região de Manaus, local da obra, e por apresentar características físicas e mecânicas compatíveis com a forma específica utilizada. A espécie que a literatura julga mais adequada para utilização na construção civil é Guadua angustifolia, nativa da Amazônia, que foi escolhida pelo projeto para disseminação na região, visando a sustentabilidade da obra. Esse tipo de bambu ocorre em vastas florestas naturais na Amazônia, mais notadamente na Colômbia e no Equador.

Para dar suporte à sustentabilidade de vilas ecológicas e construção de novas habitações, foi definido um plano de cultivo e de propagação do bambu Guadua angustifolia no Estado do Amazonas. Integrantes da equipe aprenderam como cultivar, tratar e manejar a planta. Mudas foram plantadas em áreas específicas e degradadas, seu crescimento vem sendo monitorado e a reprodução para disseminação já foi iniciada.

Sobre o Programa

O objetivo geral do Programa de Tecnologia de Habitação - Habitare é apoiar o desenvolvimento científico, tecnológico e a difusão do conhecimento no campo da Tecnologia do Ambiente Construído, por meio de pesquisas científicas, tecnológicas e de inovação que visem a contribuir para a solução do déficit habitacional do País e a modernização do setor da construção civil, no sentido da melhoria da qualidade, aumento da produtividade e redução de custos na produção e recuperação de moradias, especialmente destinadas aos segmentos de baixa renda.


Mais informações sobre o projeto:
Marilene G. Sá Ribeiro
Coordenadora da Pesquisa
INPA
(92) 3643-3377

Os autores do projeto são:
Marilene Gomes de Sá Ribeiro (arquiteta) - mlene3@hotmail.com
e Ruy Alexandre de Sá Ribeiro (engenheiro civil) ruy_saribeiro@yahoo.com
Veja aqui em anexo o pdf com a cartilha da obra da Vila:
VilaEco.pdf

quinta-feira, 12 de março de 2009

O que é uma escola sustentável?


Existem muitas definições sobre o que é sustentável. A mais apropriada que encontramos diz que o sistema em que vivemos deve satisfazer nossas necessidades de crescimento e manutenção armazenando mais energia do que a despendida para construí-lo. Isso quer dizer que nosso foco deve estar em obter o que precisamos no presente sem comprometer a estrutura para que as gerações futuras possam fazer o mesmo. A escola sustentável busca ensinar as crianças a viver dentro dessa lógica. Produzir ao invés de consumir e gastar. Só assim será possível difundir o conceito e aplicá-lo.

Para muitos estudantes o futuro parece incerto e até assustador. Por isso, existe a necessidade dessa interpretação mais ampla da educação. É preciso mudar o foco e escolher temas que ofereçam as ferramentas para construir um futuro sustentável. Isso envolve um aprendizado contínuo e interdisciplinar. E o meio-ambiente pode fazer essa ponte!

A eco-alfabetização traz em si mesma conceitos básicos da sustentabilidade. Programas que descobrem a natureza pela ciência, matemática, literatura, arte e ciências sociais permitem investigações práticas e encorajam avaliações críticas fundamentais para que tenhamos adultos capazes de viver de forma sustentável.

A reorientação da educação envolve não somente aumentar o conhecimento do aluno, mas incentivar o desenvolvimento de habilidades e valores que motivarão para estilos de vida sustentáveis. Já está comprovado que elevar o grau de instrução das pessoas não é suficiente para alcançar sociedades sustentáveis. Por isso estamos aqui. Nós e você. A escola-sustentável propõe uma educação básica que inclua o ensino de valores, a promoção do cuidado com o planeta, o cuidado com as pessoas e a partilha justa de recursos.

Como fazer isso?
O ensino da sustentabilidade deve começar com projetos. Eles enfatizam o pensamento crítico, a resolução de problemas, a tomada de decisões, análise, o aprendizado cooperativo, liderança e a capacidade de comunicação. Já o meio ambiente deve entrar como uma coisa divertida e dinâmica, algo que mostre para os futuros cidadãos que nós fazemos parte do que chamamos natureza e que não é apenas na semana dedicada ao meio-ambiente, ou no dia da árvore, que devemos pensar sobre ela. E mais uma vez você pergunta: como? A permacultura (inventada pelo australiano Bill Mollison na década de 70) tem algumas dessas respostas. Ela é um pacote pedagógico, uma metodologia para a criação de ambientes produtivos, sustentáveis e ecológicos que possibilitam o homem habitar a terra sem destruí-la.

E não pense que a escola é pequena demais para isso, ela é ideal. Começar envolvendo as crianças com os canteiros e espaços verdes da área escolar é o início perfeito do relacionamento entre esses pequenos seres humanos e a natureza. Lembre, estamos dando apenas o primeiro passo! Você vai ver como esses espaços, verdadeiras salas de aula ao ar livre, são capazes de entusiasmar e envolver seus alunos.
Veja através da tabela uma comparação entre o ensino tradicional, centrado no professor, e o ensino que propomos, aberto e centrado no aluno.

Educação centrada no professor
* Professor ensina, os alunos são ensinados;
* Professor sabe tudo;
* Professor pensa sobre os alunos;
* Professor é o sujeito do conhecimento e os alunos são o objeto.

Educação centrada no aluno
* Partilha a informação;
* Gera opções de aprendizado criativo e auto-iniciado;
* Alunos envolvidos no processo;
* Ênfase na avaliação holística;
* Alunos contribuem para a seleção das experiências de aprendizagem.

Como vemos, os modelos centrados no aluno são fundamentais para a criação de uma consciência sustentável. Eles oferecem processos interativos que podem ajudá-los a se sentirem responsáveis por seu aprendizado, desenvolvendo habilidades. Esse modelo de educação oferece ferramentas para restabelecermos o controle sobre o aprendizado, dirigindo nosso futuro para a sustentabilidade.

Mundo sustentável

O consumismo está se alastrando pelo mundo na busca de satisfação pessoal. Roupas novas, plásticos, carros, telefones celulares… Nesse processo o mundo está sendo destruído pelo esgotamento de recursos naturais utilizados na fabricação desses produtos. Um futuro sustentável implica na mudança de padrões insustentáveis de consumo, permitindo qualidade de vida com novos hábitos.

Para viver eticamente você não precisa parar de fazer compras. Mas a ética traz idéias novas, ajuda a economizar e gera dinheiro! Por exemplo: você pode adquirir produtos que tenham uma vida mais longa, que sejam de fácil conserto ou produzidos em sua região. Produtos mais duradouros evitam a necessidade de troca, os de conserto mais simples também. E a escolha de produtos locais pode economizar energia, além de eles serem mais baratos!

O mundo sustentável pede raciocínios como esse e, principalmente, que os estimulemos em nossas crianças. Com educação, escolhas adequadas e um comportamento responsável podemos reduzir o lixo, favorecendo o meio-ambiente.
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Fonte:
http://www.ecocentro.org/habitats/?page_id=15

quarta-feira, 11 de março de 2009

Comunidades do Piauí ganham bancos comunitários

Com 6.800 habitantes, o município de Cajueiro da Praia é apenas um satélite de Parnaíba, pólo econômico localizado na região norte do Piauí, que tem 150 mil habitantes. Em busca de maior autonomia econômica e procurando fortalecer o desenvolvimento da comunidade local, criou-se, no último dia 11 de junho, o Banco Caju da Praia, na cidade litorânea de Cajueiro da Praia, situada na divisa do Piauí com o Ceará.

A economia local é baseada na pesca e na agricultura. O Banco Caju da Praia objetiva adiar a fuga do dinheiro da comunidade para os centros econômicos mais evoluídos, como Parnaíba. Neste outro município, também foi inaugurado, na semana passada, o Banco Semear, dentro da mesma perspectiva. "Nós queremos conscientizar a população para que ela adie a saída do real para outros centros e, assim, produza mais riqueza dentro do município", ressalta Victor Hugo Saraiva, da Care Brasil.

Assessorado pelo Banco Palmas, do Ceará, o Caju da Praia é o terceiro banco comunitário do Piauí e faz parte de uma rede que conta com a participação de 26 instituições baseadas nos princípios da Economia Solidária. A moeda social, o cajueiro, começou a circular nesta segunda-feira (16).

De acordo com Victor Hugo, cerca de 800 cajueiros já circulam na comunidade. "Isso foi um diferencial do banco, pois as outras instituições não conseguiram esse número em apenas três dias. Sem contar que o efeito multiplicador da moeda também é significativo, porque ela não fica parada, ela passa do comerciante para o consumidor e vice-versa", afirma.

A metodologia do Banco Caju da Praia é similar à do Banco Palmas. Além de financiar o consumo, o banco deve oferecer suporte aos comerciantes locais. O banco só vai poder operar com força total daqui a seis meses, por meio de um financiamento do Banco Popular do Brasil. No entanto, algumas linhas de microcrédito já estão sendo liberadas para grupos específicos. Uma horta comunitária baseada nos princípios agroecológicos, uma cooperativa de frutos do mar, oficinas de artesanatos e cooperativas de costureiras são os projetos em andamento.

Há dois anos, começaram os debates e os seminários com a participação dos moradores da região. Foi realizado um diagnóstico do consumo e da produção locais. Foi constatado que a região litorânea do Piauí é economicamente vulnerável. "Atualmente, há um ensaio de desenvolvimento do turismo na região, reproduzindo o modelo predatório que ocorre no Nordeste. A compra de terras por estrangeiros já é uma realidade. Um grupo de espanhóis comprou 68% de Ilha Grande com a finalidade de construir um resort, expulsando as comunidades locais", informa Victor Hugo.

O Banco faz parte de um projeto mais amplo, uma vez que se insere no Núcleo de Ampliação de Valores Econômicos e Sociais Local (Naves), que integra o projeto da Aliança Mandu (Movimento de Articulação Norte Piauiense para o Desenvolvimento Sustentável), formada pela CARE Brasil, Universidade Federal do Piauí (UFPI), Instituto Floravida, Embrapa Meio-Norte e Fundação Kellogg.

As matérias sobre Economia Solidária são produzidas com o apoio do Banco do Nordeste do Brasil.
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Fonte:
http://www.adital.com.br/site/noticia.asp?lang=PT&cod=33566