sexta-feira, 9 de julho de 2010

Bilionários pelo meio ambiente

Por Hazel Henderson*

“Bill, Melinda e Warren, o que lhes parece convencer seus amigos a investirem na produtividade verde?”, pergunta a economista Hazel Henderson neste artigo exclusivo.

St. Augustine, Estados Unidos, 5 de julho (Terramérica).- Aplaudo Bill e Melinda Gates e o financista Warren Buffett por desafiarem outros multimilionários a doarem, durante suas vidas, a metade ou mais de suas enormes fortunas a obras de caridade. Em maio de 2009, eles propuseram a David Rockefeller ser o anfitrião de um primeiro jantar secreto com George Soros, Ted Turner, Oprah Winfrey, Michael Bloomberg, David Rockefeller Jr. e outros bilionários, no qual lançaram a campanha.

O casamento Gates e Buffet já está no caminho correto, pois dirigem suas doações para a África e países em desenvolvimento de outros continentes, bem como a educação. E eles podem convencer seus amigos ricos a irem além de financiar luxuosos pavilhões com seus nomes em universidades da elite. Esse tipo de filantropia está fora de moda.

Também está fora de moda a expansão subsidiada de empresas vinculadas a combustíveis fósseis, do carvão ao petróleo, passando pelas petroquímicas, o aço ou a indústria automotiva devoradora de gasolina, até a agricultura em escala industrial e as grandes companhias farmacêuticas. Bill Gates poderia se desligar do American Energy Innovation Council, que pressiona o Congresso dos Estados Unidos para obter US$ 16 milhões em subsídios à pesquisa com “carvão limpo”.

O melhor que os filantropos podem fazer é unir suas forças a grupos progressistas, para acelerar a transição para uma Era Solar que aplique modelos de desenvolvimento humano baseados na potencialidade e produtividade dos sistemas naturais que, há milhares de milhões de anos, a natureza nos oferece. A Iniciativa por uma Economia Verde, de várias agências da Organização das Nações Unidas, está sintonizada com os programas da Fundação Gates, bem como com a iniciativa Economia dos Ecossistemas e a Biodiversidade, o instituto Zeri, fundado pelo empresário Gunter Pauli, autor do livro “The Blue Economy”, e o Biomimicry Institute, de Janine Benyus.

Como conseguir os investimentos necessários para impulsionar esta grande transição para a Era Solar? Bill e Melinda Gates podem conduzir seus pares para as tecnologias inovadoras, que só esperam recursos para concretizar essa transição.

Eles podem unir-se à Rede para os Mercados Financeiros Sustentáveis e com líderes em finanças que estão preparando o terreno, com os Princípios para o Investimento Responsável da ONU (com US$ 20 bilhões em ativos), a Iniciativa Financeira do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, a Certificadora de Padrões Ambientais Ceres (com US$ 3 bilhões), e o Institutional Investors Group on Climate Change (com US$ 8 bilhões).

Desde janeiro de 2007, foram investidos ou comprometidos US$ 1,248 bilhão em negócios de eficiência energética, agricultura sustentável e energias limpas, bem como em outras tecnologias que estão deslocando as antigas empresas contaminadoras e os financistas do passado. Este fascinante progresso costuma ser ignorado pelos principais meios de comunicação, ainda mantidos pela publicidade dos setores fossilizados da sociedade.

A Ethical Markets Media (http://www.ethicalmarkets.com) dedica-se a promover a reforma dos mercados mundiais e o crescimento da economia verde. Publicamos informes diários sobre novas tecnologias, investimentos, empreendimentos e companhias que lideram o caminho para a transição verde (http://www.greentransitionscoreboard.com). Usamos o modelo Climate Solutions 2, da firma com sede na Austrália Climate Risk Pty, para mostrar que é possível garantir a transição verde investindo US$ 1 bilhão por ano em todo o mundo, especialmente nos países em desenvolvimento, até 2020.

São US$ 10 bilhões em dez anos, menos da metade dos US$ 23 bilhões empregados para resgatar o setor financeiro e automobilístico dos Estados Unidos, em bancarrota, pagos pelos contribuintes. Esses US$ 10 bilhões representam menos de 10% dos valores manejados por investidores institucionais, fundos de pensão e fundações de caridade do mundo, estimados em US$ 120 bilhões.

Assim, Bill, Melinda e Warren, o que lhes parece convencer seus amigos a investirem na produtividade verde e os ajudar a modernizar seus velhos portfolios?

Assim poderão treinar seus administradores e consultores em novas formas de avaliar ativos, considerando os fatores ambientais, sociais e de governabilidade, que permitem monitorar com certeza a produtividade verde. A visão de Bill e Melinda Gates já fez a grande transição para o verdadeiro desenvolvimento humano. Eles e Buffett podem nos ajudar a chegar a um novo cenário mundial, que supere a obsoleta noção do produto interno bruto.

* Hazel Henderson é economista norte-americana, autora de Ethical Markets: Growing the Green Economy (2007) e coautora dos indicadores de qualidade de vida Calvert-Henderson (http://www.Calvert-Henderson.com). Direitos exclusivos IPS.


Crédito da imagem: Fabrício Vanden Broeck

Fonte:Terramérica

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Ecoeficiência: Forma e Conteúdo

O compromisso de uma empresa com o desenvolvimento sustentável deve ser avaliado por um conjunto de práticas e por sua evolução ao longo do tempo. A percepção interna e externa desse compromisso depende do grau de transparência e da eficácia da companhia ao comunicar seu desempenho tanto em relação aos indicadores de excelência quanto àqueles que, embora ainda aquém do ideal, estejam progredindo na direção desejada. Ou seja, nem toda empresa genuinamente comprometida com a sustentabilidade é percebida como tal e vice-versa.

O processo de construção e difusão da reputação em sustentabilidade se dá de várias formas, sendo uma das mais eficientes a propaganda boca a boca espontânea das pessoas e entidades com quem se interage no dia a dia – os chamados públicos de interesse – e que constatam na prática esse diferencial da empresa. Outro canal poderoso é a participação em associações reconhecidamente sérias que promovem a responsabilidade social corporativa e em seminários e eventos com credibilidade para atrair os maiores especialistas no assunto. Premiações relevantes e criteriosas também conferem reconhecimento valioso.

A publicidade pode igualmente ser útil como ferramenta complementar se usada com inteligência e veracidade, sem se confundir com greenwashing, e é frequentemente empregada pelas corporações em grandes datas comemorativas como o dia mundial do meio ambiente. O motivo que as leva a recorrer à publicidade nessas ocasiões é o mesmo que as move em outros temas: informar/formar o público através de técnicas específicas da propaganda, inclusive a capacidade de despertar emoção nas pessoas, buscando estabelecer com elas uma relação de confiança ou empatia. O que talvez seja mais intenso na questão específica do desenvolvimento sustentável é o caráter simbólico da iniciativa, no sentido de transmitir a crença de que a preservação do meio ambiente é uma causa comum à toda sociedade e que ninguém pode ficar indiferente a ela.

Nesse contexto da publicidade, há que se buscar um equilíbrio entre forma e conteúdo. Em certos casos, para garantir consistência à mensagem desejada, não há como fugir de expressões técnicas, mas sempre que possível é preciso traduzi-las numa linguagem compreensível a todos. A Braskem, por exemplo, tem indicadores de Saúde, Segurança e Meio Ambiente que são benchmarks na indústria química mundial e em constante evolução desde a criação da empresa. Por esse motivo, pode proclamar com orgulho que “melhorou seus indicadores de ecoeficiência”, sem correr o risco de ser mal entendida ao dizer que “reduziu seus indicadores de ecoeficiência”, como saiu publicado em recente peça publicitária. Seja como for, insustentável é pretender associar uma questão semântica tão trivial a um caso exemplar de greenswashing.

* Nelson Letaif é diretor de Comunicação da Braskem