quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Pro-Colabore

O crescimento da rede é rizomático, distribuído e veloz. Não é organizado. Mas quem disse que seria organizado? O conhecimento é recombinante. Um dispositivo que se dá no remix. Tudo se transforma, nada se cria. A recombinação se dá na colaboração.

O que é colaboração? Essa é uma pergunta que fica sem resposta. Vou tentar discorrer sobre sem tocar na definição. Falar do que nos move. Não daquilo que é. Da relação entre as pessoas e não da coisa em si. Participamos da vida social. A colaboração como princípio de sobrevivência, como essência inerente do próprio ser humano. Um ser gregário, social, incapaz de viver sozinho. Daí a impossibilidade de se dissociar colaboração e interação das pessoas, de grupos, em torno de algo comum.

Colaboração não tem um significado estanque, pois acontece na ação. Pressupõe generosidade, que é limitada, parcial. Inconstante que é, supera diversidades, une e aproxima os diferentes. É fraterna, levando as ações a acontecerem não obrigatoriamente quando há necessidade. É uma lógica que não se mantém no cotidiano. Apresenta uma dinâmica caótica da relação do ser em comunidade.

Do ponto de vista de uma sociedade em rede, a produção cultural está sendo catalisada pela colaboração. Pessoas têm muito mais possibilidades de experimentação e realização de projetos. O próprio conceito do software livre corrobora com a idéia da colaboração. Foi no início dos anos 90, que Linus Torvalds, influenciado pelas idéias de Stallman, disponibilizou os códigos na rede. Essa história tornou-se conhecida. O Linux explodiu na rede da moçada e extrapolou limites geográficos. Milhares de programadores colaboram frequentemente com o software. Outros muitos milhares cooperam com outras comunidades.

Colaboração aponta para uma teoria social que contenha o princípio da continuidade

Da mesma forma que buscamos um modelo de desenvolvimento de software, alavancamos os aspectos de colaboração, de liberdade, de apropriação e replicação para a área do conhecimento. Surge, assim, uma comunidade de pessoas em rede que comungam por uma ética e uma cultura próprias, baseadas no compartilhamento do conhecimento e na ausência de hierarquias - verticalização dos processos. Essa comunidade clama por liberdade, por meio das iniciativas de produção de conhecimento em rede. Aliás, a sacada do Linus foi usar a internet para compartilhar o desenvolvimento de uma idéia. Não é à toa que o Linux aconteceu na mesma época da Internet. Emerge um modelo de produção colaborativa em rede.

A rede é catalisada pela internet. É assíncrona; o tempo não pára. O tempo flui numa complexidade caótica. O caos assusta também. Porque nos faz pensar, deixando-nos fragilizados frente à falta de controle que temos ou não das 'coisas'. Esse tempo assíncrono é uma ruptura. Assim como o ser que se redescobre esquizofrênico; assim como o espaço informacional que desconhece barreiras de ir e vir; assim como o conhecimento que se dobra, e liberta-se. O crescimento dessa rede é rizomático, distribuído e veloz. Não é organizado. Mas quem disse que seria organizado? O conhecimento é recombinante. Um dispositivo que se dá no remix. Tudo se transforma, nada se cria. A recombinação se dá na colaboração. Isso é a cultura hacker, né? Como usar o dispositivo para outras áreas do conhecimento?

Um dispositivo que dá visibilidade da articulação em rede para a transformação social. De certa forma, com a cultura hacker a produção tende ao infinitesimal (in)finito. O inteiro que contempla toda a multiplicidade. Colaboração aponta para uma teoria social que contenha o princípio da continuidade. A continuidade da ação comum. Um processo recursivo onde duas ou mais pessoas ou organização trabalhem juntas para uma interação de objetivos comuns.

Fonte: Hernani Dimantas assina, no Caderno Brasil, a coluna Sociedade em Rede.

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